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sexta-feira, 4 de março de 2016

Março de 2006

Um maço de cigarros
Um ensaio, outro ensaio
Alguns refletores
Tantos sorrisos, meus alunos
Minha mãe, meu sobrinho
Meu trabalho, ele, meu ofício
Cruzei avenidas em construção 
Disse paradas duras a mim mesmo
E passei por aquilo que nunca
Nunca antes, havia passado
É preciso estudar, é impreciso
É instável a língua, o nosso falar
Como posso te dizer algo que nem a mim
Eu consigo contar?
Esse taxista não sabe de nada. 
Ele vai me atrasar?
Se a saúde vai bem?
Dizem meus amigos que a minha saúde
Não vai bem não.
E o que mais?
Vários outros amigos nem dizem nada porque a gente não se vê já faz tanto tempo.
Chegou março.
Faz dez anos eu cheguei nessa cidade.
Era março de 2006.
Eu chegando ao Rio de Janeiro.
Eu, pequeno, sonhando lindo
Hoje eu aqui, vivendo tudo isso
Nem sei
Faz dez anos eu escolhi ser
Quem eu sou hoje
Sem saber nada
Nada de mim.
Fui todo caminho.
Fui todo encontro, todo pavor
Fui jogo. Olhos, sustos, arroubos
Fui palavra lida escrita e gritada
Fui em cantinas, ruas e ruelas
Fui pouco, mas fui à praia
Bem pouco, fui amando
Quem hoje eu me permiti ser.
Se hoje se completam dez anos dessa cidade em mim
Não sei. Talvez sim.
Não fosse isso, eu não estaria escrevendo
Isso tudo
Que agora se escreve por mim.

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