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quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Daqui onde estou

A cidade tem mais serventia.

A fachada do hotel
Soa menos imponente
E quem dá vida ao dia
Dorme logo na calçada
Jogado ao chão
Ali em frente.

Daqui onde estou
O cheiro da cidade
Tem meu perfume
Com notas de café.

Daqui onde estou
O menino que passa
Entre os carros
Tem a face vermelha
E fortes braços.

Eu não me sinto longe
Mas me vejo distanciado.

Haverá um modo de mirar o mundo
Sem que seja lhe esfregando a mão?

Talvez não.
Por que não?

O corrimento da vagina rua
O falo edifício das instituições
Tudo lá fora hoje me soa mais
Como relevo, quase decoração

Não.

Daqui onde estou
É mais fácil o perverso
E barato jogo da definição.

Não.

Daqui onde estou
Em temperatura controlada
O mundo através da janela
Não me comove
Não me convoca.

Só mesmo o corpo em esfrega
Poderia mudar o meu tom ao mundo?

Por que anseio dizer distinto
Por que anseio corpo no concreto
Se já é hoje tudo tão duro
Tudo duro hoje já tão improfícuo?

Desejaria ser rua para abrir caminho
Ou para desfazer os sentidos que já me dei?

Perdi a poesia quando sai daqui
Onde estou. Perdi os versos e a precisão
Das rimas brandas. Perdi tudo quando
Assassinei a prudência da distância:

Escrever o mundo não cabe em outro lugar que não seja na ponta da caneta sobre a folha branca em prancha.

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