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sábado, 31 de outubro de 2015

talvez para te machucar, apenas

talvez eu quisesse lhe dar fim
dar fim a si mesmo
talvez eu quisesse

talvez eu tenha cansado
dos seus cansaços
das suas incapacidades
talvez eu quisesse hoje
apenas hoje
intensificar a sua dor
e dinamitar a mil
o seu embaraço

quisesse eu, hoje
acabar com a sua raça
apagar do mapa
sua temperatura
perfurar seu estômago
e te enforcar em seu próprio
intestino grosso

cansei de você, diogo
por agora, preciso confessar
cansei
da sua rima
da sua barba
do seu rosto sujo
da sua cara mal lavada
cansei mesmo
se me houvesse força
te desfiguraria

pensei em te queimar
com a água fervente
do macarrão
pensei em não marcar o despertador
tomar uns remédios vários
e nos livrar
da sua aparição

mas você dura
você resiste
e eu já não sei como lhe acabar

cansei de ti
cansei
mesmo, estou cansado
você engole fumaça
vive alcoolizado
você afasta os amores
você não come
não dorme

e só agora
o que sabe
é falar
e tomar banho
passar perfume
e mudar a roupa

andas pelas ruas
como quem respira
não porque tenha motivo
apenas porque você existe
e por isso
eu sei
você acredita se bastar.

tudo errado,
imensa vergonha

por que você não vai embora?

faço outro programa:
junte umas roupas
saque o dinheiro que tanto correste atrás
junta tudo numa mochila velha
pega os maiores livros (nunca lidos)
e some
some de vista
não deixe rastro
não escreva pistas

suma
daqui
e do seu lugar
abandone os amigos
e sequer cometa o crime
de lhes dizer: preciso
me
encontrar

nada disso

se aborreça sozinho

morra hoje
morra dormindo
suma
despareça
eu te odeio
hoje
mais que sempre

sua biografia é mesquinha
sua existência é maligna
hoje
você não serve
para nada
exceto para gastar o mundo
e nada lhe modificar

sua ousadia virou rebeldia
sem causa
seu calor virou suor do verão
não
isso não
suma

dê um tempo ao mundo
ninguém te merece
enquanto não aprenderes
a ser merecido

você machuca o tempo
você desfaz os laços
você não está bem
e teme assumir isso

chega!

poste esse poema
e ponha-se fim
(quem nos dera)
ponha-se um fim
qualquer um
seja porque vais dançar nu até cair
seja porque não
porque sim
talvez porque você saiba

que este é só um poema bêbado
e o seu fim
foge ao seu desejo

és forte para mudar o mundo
mas fraco para mudar a si mesmo.

hoje talvez, para te machucar, eu apenas tenha essas palavras.

vai que amanhã você acorda distinto
e lave a louça
e cumpra com as coisas atrasadas
vai que você consiga
vai que
tomara!

hoje você só me envergonha.
hoje você não serve mais para nada
absolutamente
você, nada.

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