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quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Sem gelo

Por favor, moço
Sem gelo.

Não, não, não
Nada com a garganta
Nada com a voz
É com a vista.

Como?

Perdão?

É com a vista?
Como?

Peco licença e vou ao banheiro.
Espelho.
Olhos nos reflexos de si mesmos.

Veja:
Sem gelo
Sem susto
Sem contraste

Volto

O moço me olha e eu postergo
A bebida para mais tarde.

Lá fora venta
Ouço crianças
(saem da escola)
Nada importa

Nada me importa

A boca amarga
Acendo outro cigarro
Deu no jornal
Que a inflação
É coisa do mundo
Inteiro.

Termino

Ergo-me

Tudo bem, eu digo ao moço
Sem gelo.

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