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quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Seca

Talvez sua descrença nas coisas todas
tenha te impedido de escrever
as próximas rimas.

Sinto que é isso:
dureza não no corpo
dureza não na agilidade
dos dedos caçando letras
mas dureza última
no espírito.

Perdeste alguma doçura
perdeste tu o mínimo
que é saber enrubescer
com o mínimo
com o mais delicado
com o ínfimo.

Faz já um tempo se acostumaste tu
à completar os buracos.

As covas então se fecharam
a vida virou jogo pernicioso
que não tolera a falta.

Mas ora, desde quando
o que há não é apenas isto
a falta?

Por que foi que você se acostumou
à coxinha?

Desista disso.

A sua cova íntima
é o espaço onde sobrevive
a sua capacidade
de ser afeto e enzima
A sua capacidade
de ter fé
em tempos tão turvos
e de desconfiança.

Secou.
Então regue.
Secou?
Então deixe-se
molhar

deixe-se molhar.

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