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quinta-feira, 6 de agosto de 2015

A Relva

Acontece que acontecem
Instantes em que nada
Acontece

Seria possível?

O sol sobre a minha pele
Algum tímido vento
Ouço sons, mas tudo distante
E então a noite
Escurecendo a possibilidade
De alguma mão
Me arrasar.

Dia seguinte, disse a si mesma
A relva: é possível ser
Mesmo sem ninguém
Ou coisa alguma
Me tocar?

Sol vento som vento
E nenhuma mão.

No silêncio as perguntas ganharam peso.
Será possível? A relva se perguntou
Ciente de que já fazia dias
Sua pele era apenas verde sozinho
Verdade sem teste
Dormente do que ainda
Não veio.

Noite após noite
Foi-se perdendo
O veludo
A graciosidade
Ficou seca
Morreu a vaidade
E, por fim, dormiu.

Dia seguinte
O sol às vezes amanhece atarefado
Raios sonoros e esquentados
Abriram os olhos dela
Relva sem rumo.

Ela sentiu a própria pele
Ela sentiu na pele
O abrupto toque de um tiro
Dado ao longe
Não viu se alguém morreu
Mas nem precisava
Pois sobre a relva pele
Tudo entrava
Feito tiro
Tiro feito bala
Tudo a acessava
Até a solidão virar verde exposto
não desespero.

Hoje a relva ciente de si
É mais porto do que barco
É mais certeza que convicção
Ela sabe
Sente e por isso sabe
Que se não vier mão
Veio desde sempre
O tempo
Descrito em frio e vento
Desenhado em raios solares
E sonoros
Eu, relva, hoje sei:
Ser paisagem e não embarcação
Passe a mão por mim, ó, tempo
Passe-me suas mãos.

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