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quinta-feira, 25 de junho de 2015

Duração

Pode até ser
Que o gosto só chegue depois
Quando tiver passado
Algum silêncio.

Talvez seja instantâneo
Ainda que não repleto
O gosto pode vir direto
Sem pedir licença.

É preciso gostar
Mais que do gosto de gostar
Mas sobretudo
É preciso cultivar sua ausência.

Quando a boca estiver seca
Saiba ser essa sua condição
Talvez não possas cantar
Talvez sequer poderás com oração
Mas fato é

A língua demanda transformação
E logo o gosto muda
e a angústia vira criança
Porque não é mais possível
nessa idade
Não compreender que é preciso tempo

Dar tempo
Para no gosto do pavor
Se transformar em abraço
(ainda que ao relento).

Compreende?

Não se trata mais de entender
Mas tão somente de sorver
Sentir
Verter o corpo todo
Rumo ao inevitável
Que é a enzima

Desejo de comer tudo
Desde o morango daquela tarde fria
Até o silêncio oco de alguma partida.

Dê-me tudo, oh, mundo

Tenho fome.

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