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sábado, 6 de junho de 2015

Antigos pesares


Retomou a confiança
Parou de acender cigarros
Confiou no tempo
e em todos os clichês
sobre a vida
e tantas mortes.

Tomou banho
Escovou os dentes
Usou fio dental
Escovou novamente
os dentes
Tudo em ordem
Tudo no conforme
tudo habitual.

Cruzou a avenida
na faixa de pedestres
Abriu espaço
deixou que a rua passasse
que as senhoras e seus cachorros
mijassem no chão
Não fez alarde

Era tudo normal

Nem sequer caminhava
munido de antigos pesares.

A profusão de pensamentos virou memória.

Andou retinto
limpo
Lindo
andou pleno
mesmo que soubesse
estou a andar sobre abismos
Seguiu
confiante
(não bem em si)
Mas no instante
na possibilidade da vida
se refazer
e de súbito
Virar coisa possível
coisa menos a ele
angustiante.

Numa esquina
um beco de rua
Um pedaço de cidade
uma zona terna e cinza
quente e escura
Se sentou

querendo ver estrelas

Era dia
era quente
Hoje é dia
estou doendo
Se disse
Sem tempo para ponderar
o coração

derretendo
dentro
de
si

E pegou fogo
sem que ninguém o pudesse socorrer

Se estava cansado
se era estafa
Jamais saberemos.

O homem pegou fogo
e com ele
Morreu também sua agonia.

Obra de Thomas Mailaender

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