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quinta-feira, 14 de maio de 2015

Na vida que não lembro

Antes do dormir
Me veio um sobressalto
Afinal, pensei
Como fui eu quando não tinha ainda
Alguma consciência dos fatos?

Imaginei minhas pernas gordinhas
Imaginei a boca suja de papinha
Imaginei a textura do carrinho
O cheiro da fralda branca
O choro (já deve ter havido tanto choro)
Que me fortaleço só de pensar
no que vivi sem saber que estava vivo.

Lembro-me ainda mais
(ou apenas mais imagino)

Dos toques
Das pegadas no colo
Dos passeios
E do nariz roncando fininho

Deve ter havido muita coisa
para que eu chegasse aqui.

Depois pensei inda mais
Pensei na mãe
No pai e nos irmãos
Pensei em quantas festas de aniversário
Quantas idas e vindas da creche
Da escola
E nesses 27 anos
Ao menos uns 13 ou 14
eu consigo mais ou menos
Descrever.

Por que tudo isso?

Pela beleza apenas de reconhecer
que passa o tempo
E sobrevive o corpo em uso
Em padecimento
E o pensamento
Hoje alado

Segue a vida
para além do prazo estipulado.

Que poesia é esta
A de estar vivo
Sabendo-se disso
Ou não.

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