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domingo, 12 de abril de 2015

vento parado

as palavras não me ajudam mais
não há salvação possível
o horóscopo soa repetitivo
e tudo resta condenado
cruzo os dias sem ter esperança
de que amanhã haverá mudança
não pretendo nada
nem mesmo sobreviver
é como se em mim tivesse baixado
uma morte que se arrasta
e nem sequer tem vontade
de me comer
resto então aos restos
sem pressa para finalizar-me
sobrevivo
sem vontade de sobreviver
eu sobro
hoje
eu sobro
como se fosse um vento frágil
incapaz de mover aos outros
posto incapaz de se mover
vento sem força para ser vento
vento parado
tísico
vento fraco
nem sequer catalisador
de um arrepio
resto eu
sobrevivo
sobro sem soprar
nem vida nem morte
nem fim nem começos
sou indiferente ao ódio
que já senti
indiferente à possibilidade do amor
como algum fim
não respondo a nada
perdi a sensibilidade da membrana
meus olhos nem piscam mais
minha visão virou tela
dura e limpa
clara e retinta
vazia
nem penso mais
apenas ando
porque as pernas
andam
independente de quem as coordena
porque a vida morreu
junto com o amor
agora, em morte
espero me encontrar
o fim
este fim
ele precisa me mover
precisa me espezinhar
(só que eu ainda não sei disso)
é que pousou um inseto sobre meu rosto
e nem sequer sua fome me fez cócegas
seu movimento
não me irritou
eu virei pedra?
eu perdi a rima?
vida
quando assim escrita
só me leva à azia
vida
azia
azeda
vida
meu pai
que horror
quisera eu pudesse gritar
e morrer sem ar
quisera eu nascer de novo
e não conhecer o amor
vai passar
vai, eu me juro
(eu só não sei disso ainda)
porque me voltam os abraços
os dizeres
me volta tudo
tudo
nestes dias
tudo tem me voltado
e então estou rendido
agora em meio à noite
estou rendido no detalhe do laço rompido
rendido em seu sorriso
rendido na mistura dos corpos
nos sonhos compartilhados
nos planos tracejados
rendido no amanhecer
no almoçar
no carinho
de nada esperar da vida
exceto caminhar
de mãos dadas
mas você nos fez nos perder
então
resto-me
equilibrando-me entre ódio
e amor
tudo explícito
assim desse jeito
que merda, meu irmão
que merda, meu parceiro
que merda, cara
você foi muito grosseiro
a ponto de me perguntar:
o que você acha que podemos vir-a-ser?
                                                                                                       
                                                                                                        
agora?!
quando eu te pedi
que entendêssemos o caminho
que lidássemos a encruzilhada
quando eu te disse
que o amor tem disso
tem quebra-molas
você se fez de burro
e fingiu ser duro
para não ter
que ser responsável
por aquilo
que em mim
tu cativara$
e então
agora
agora?!
agora!
agora você me pergunta
o que podemos vir a ser
e eu te digo, apesar da sua idade
eu te terapizo
te piso
com gosto
eu te piso
agora mais certo que antes
contigo
nada
nem nunca mais
eu pretendo 
algo ter
ficou claro?
você morreu em mim
quando me matou
estou agonizando
e só estou tossindo
porque tu eras grande
portando inflamado ego
logo
suas cinzas
pesam minha magreza
já tão magra
posto ainda houvesse
em mim
generosidade
a ti destinada
de nada
sua fome
sua insatisfação
pisotearam minha confiança em ti
babaca!
sua fome
sua constante insatisfação
pesaram meus ombros e adentraram
os meus sonhos
mimado!
você me estragou
e agora
o meu desejo
é o mesmo que a mim
foi por ti destinado:
pseudo-interessado!
fique sozinho
otário
fique sozinho
no seu mundo colorado
fique sozinho
distante
fique longe
a nadar em sonhos
que não se realizam
porque o seu sedentarismo
é crônico
e não temporário
e o seu prato de comida
vale mais
que a merda
que te escorre
pelo seu sorriso
todo
sob quilos de maquiagem
eternamente enverrugado

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