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quarta-feira, 4 de março de 2015

Melancolia

É uma leveza densa
apesar de sem peso
Constante se mantém
sobre o passo dos pés
junto a todo e qualquer
desassossego

Eu poderia supor
se tratar de certa depressão
de certa confusão da alma
do espírito, desses lugares
inacessíveis
tanto quanto o coração,

mas não
uma amizade nasce
onde não haveria paz
possível.

Subo as escadas rolantes
e é como se meu íntimo
Não como antes, agora
apenas, é como se aqui dentro
fosse bom, moletom
amigo, fosse tranquilo

andar com tudo isso que me desacordou tantas noites atrás.

Cruzo avenidas
miro tantos olhos
dou sorrisos às crianças
tão pequenas
e tão imensas, meu pai

Até Deus ganhou letra maior

Até com Deus agora
eu converso
E lhe digo coisas soltas
sem a precisão
sem muito rodeio

Uma melancolia
me move adiante
Os pés mesmo calçados
caminham descalços
porque o que se tem para andar
é só o seguir

o depois
depois de antes
Respiro!
Enorme!

E me emociono:
você me amava
mas estava perdido

Deve haver algo a ser dito
algo que mude
o que não mais mudará
Porque as escadas que rolam me impulsionam
até o cume
deste segundo

E muda
silenciosamente
a vida muda

E o amor
que eu tinha
ainda é meu
E ama
para além do já sabido
Ama o meu amor o mundo inteiro

destemido.

Destemido.

Melancolia foi o nome
para tamanha potência escura
e sem sentido.

Como é possível que eu me sinta bem com tudo isso?

Eu me sinto
e essa coisa de possibilidade
já não me amedronta
já não acrescenta
gota
alguma
no mar de suor
que produzo
ao acordar e pensar:

que dia! eu tenho
por esta frente!

E sorrio
e já sei:

o meu amor
é maior
que o mundo

Então está tudo certo.

Poderás partir
que eu continuo
Vivo

e intolerante
a amar menos
do que inteiramente
todo e cada
instante.

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