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domingo, 1 de fevereiro de 2015

olho para o céu

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minha amiga,

hoje remexendo meu hd externo, achei tanta coisa sua. nossa. de já tanto tempo.
sorri muitíssimo, confesso, gargalhei, vendo as fotos da última vez em que estivemos juntos
e - sempre - destemidos.
eu não tinha barba e você era do jeito que ainda hoje sempre será para mim.
queria te dizer uma coisa (não que você não saiba):

eu sonhei com você.

pela primeira vez desde que você se morreu.

sonhei e foi lindo. trocamos palavras, mas eu não tenho linguagem para traduzir o que conversamos. foi conversa escrita por olhos, sorrisos e ligeiros toques.
eu peguei - com as duas mãos - o seu queixo. e é engraçado no sonho eu ter feito este gesto, porque foi no seu enterro - a última vez - em que eu havia o feito.
tocado o seu queixo ralado e semi-coagulado.
você estava linda em nosso sonho. parecia mais alta. mas, no entanto, você não era mais nova do que eu (hoje). você tinha o mesmo tamanho (o cabelo, é verdade, estava mais comprido que o normal). você estava linda e se eu puder dizer a única coisa dita por você que eu me lembro (e que jamais esquecerei), é que:

eu estou bem aqui onde eu estou.

onde é? esse aí, onde você está? me conta? me invada noutro sonho e me passa o endereço, eu queria te visitar. nem que seja em poesia. tenho passado por dias muito ruins e estou cansado de me machucar. fui machucado, mas não sei curar nada disso. e os amigos, coitados!, estão tentando me erguer os ombros, mas eu não estou sendo rápido nem estou conseguindo.

só que te reencontrar, neste momento, depois de tanto tempo (sem te escrever, tanto tempo a ponto de em breve completar 10 anos...)...

que bom! que bom te rever, kekel! eu amo o sonho porque ele me deixa viver tudo aquilo que eu não pude mais viver. este sonho me trouxe o seu cheiro, me presenteou com o seu largo sorriso e com tantas outras delicadezas. consigo me lembrar da minha cara - no sonho - profundamente presente sendo vivo ao seu lado!

continua mais perto, tá? já deu tempo de sarar, deu tempo inclusive - ao menos para mim - de entender tudo. não temos nada a ser desculpado. você se matou porque esse foi o único gesto possível para se manter justa a si própria. a dor que você deixou a gente aguenta, a dor a gente processa em parcelas inúmeras pela vida adentro e, num soluço, assim, de repente, tudo se redimensiona e nos faz ser mais gente do que novela.

nunca estive tão certo da sua presença como hoje, agora. sei que estás aqui, afagando o ineditismo do meu cabelo raspado. sei que estás vibrando quando entro numa sala de ensaio. sei que estás aqui, por todos os lados, deixando eu seguir sem ser importunado. mas, sabe de uma coisa que eu nunca te contei? às vezes, dirigindo uma cena de alguma peça de teatro, eu penso em você e penso naquilo que você me faria perceber.

olho para o céu. e é você quem me ilumina.

mas, se não for pedir muito, por favor, me importune mais vezes, pode ser?

às vezes, me desculpe a franqueza, eu realmente sinto precisar de você.

te amo, kekes
do seu amigo,
didios

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