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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Este Estado

O pior deste
e de outros séculos
Talvez seja mesmo
a indiferença.

O desfile das corrupções
em orgiástica relação
Não cessa
e, como hoje,
faz apenas alguma coceira.

Tudo se esquece
no feed das doenças
Tudo se indiferença
e desfilam poucos perdedores
A balançar tenaz e contida
desarmonia.

Aos poucos, o marginal
toma força
para fora da cultura
Vira o marginal
o húmus delator
da infantilização crônica
da espécie humana.

Aprender-se-há
nas escolas desabitadas
que o mundo será mesmo
este projeto de crime
da galera endinheirada.

Aprender-se-há pelas imagens
apenas, das revistas
e da vida diária maquiada
e plastificada.

A vida vai saindo de circulação
e os fantasmas são todos pós-modernos
tudo fantasma vazio
que quando é tocado
remete apenas a este segundo forca
no qual nada se modifica
tudo só se continua
em merda pastosa
e loira.

E mais outra vez
o homem não terá se dado à nada.

E então os esfomeados
tomarão o poder
Já que a fome tenha
roubado sua identidade
Já que o frio tenha
trocado sua pele

e feito do pobre
superfície do mundo
E não mais classe
nem face;

tudo anônimo
porém vivo em força
destemida ao abate.

Tudo tão errado
tudo tão sugador

corruptor

Que a dor vira cor
para o além das cores
Que a falta d'água
e de casa
Sobrevive ainda mais forte
e futura
para além do dia em que achávamos
que viesse a chegar o Jesus do amor.

O humano se perdeu
o cuidado não chegou a tempo
o carinho, a calma
o toque aveludado
Tudo foi morto
por não dar lucro imediato
e por não poder ser apenas só de poucos,

aos segregados
eu desejo a dor
como arma final
desta revolução
em curso a cada
morte
a cada morte

das crianças
velhos
e das Mulheres,

oh, Mulheres

sobre seus corpos o homem destrói a possibilidade da vida não vinda;

oh, Mulheres

que merda o que nos tornamos.

Mas o cheiro do mendigo pestilento
o corrimento das feridas sem medicamento
a energia voraz dos jovens que não aceitam o mundo
tal como hoje assim o vivemos

tudo isso vira ponto nodal

e o mundo vai se compondo ponto a ponto
sem pressa de virar linha
sem vontade de ser fronteira
nem separação

tudo junto
Me dói
o longe
no qual hoje
e ontem
Morreram-se
toneladas
de corações humanos.

E já nem a arte dá conta
de fazer diferença brotar
nem mesmo a arte
esta descabida
engolida pelo comércio barato
(e venenoso)
da mesquinharia.

o sujo
o preto
o bicho e a bicha
essa legião de desarranjados
Vocês tem minha curvatura
têm vocês minha devoção
em meio ao poço
de esgoto
também hoje já desidratado.

O meu ódio
em world wide web
faz encontro com o seu
O meu pranto
vai virtual
procriar com o teu

e assim,

Um dia
o homem vai perder sua graça
A guerra vai virar história de ex-ricos e de ricos piedosos
e a morte vai limpando
o que não soube florescer.

Fiquemos em posição de húmus,
para que o mundo que não conseguimos
possa em meio ao nosso resto
Se inscrever.

Vamos perder
bastante
Até que o nosso espanto
se vire estandarte
E a nossa dor
vire escudo frente à barbárie dessa normatização toda
que tira a vida da praça pública
E a coloca - sempre -
em cousa outra (que se possa vender
roubar e consumir).


Grace series by Jonni Cheatwood 

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