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domingo, 22 de fevereiro de 2015

Assumir a Vida no Varal

E deixar esturricar
as pretensões todas

Deixar queimar
e ficar inerte

A cueca
As meias
Os panos de banho
as roupas todas

e também seus afetos

A saudade
O desejo
A vida planejada
O caminho pré-traçado
O desejo tenaz
de andar junto e de mãos dadas

Tudo vai ficar inerte
no varal da área de serviço

A vida passará
mais pela sala
quarto banheiro
e cozinha

A vida ficará no escritório
de castigo
Se escrevendo e se remoendo
sem fim
até que num dia

como houvesse uma tempestade

cai uma meia do varal
feito manga amadurecida
feito jabuticaba
acerola vermelha retinta
feito carambolas

despencaram todas as minhas coisas
que hoje estão de molho
soltas no vento seco e quente
desta ruína

E então vestirei meu sorriso
tranquilo, sem pretensão
vestirei a meia de antes
a cueca e a samba canção
E sairei

pronto para me sujar
de novo
nesse abismo sem sentido
que é ter amado o outro
e ter-se perdido de si

que é ter confiado
e ter que forçosamente
aprender (mesmo sem lógica)
a desamar
como quem aprende
a estar vivo sem respirar
a estar presente sem rir
a viver sem seu ti.

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