Depois que ela se matou e morreu, obviamente, o mundo resolveu me dar oi. Ele foi bem franco, confesso. Disse assim mesmo: oi. (Minhas gengivas doem). Fato é que eu não consegui responder ao mundo. Fiquei abismado. Com uma cara carente de sentido e explicação. Com certo tempo, fui dizendo ao mundo - em silêncio - que eu não dava conta de sua ousadia, mas que estava atento. E, confesso, ainda estou. Atento fiquei desde quando ela se lançou pelo 18º andar (ou 19º, nunca lembro) e eu fiquei aqui, no chão, pedinte por explicação.
(Minha garganta dói o sexo não autorizado).
E então eu segui. Destemido, porque nem medo eu sabia sentir. O mundo mudou de cores ou foi minha vista que ficou nublada, Eu disse a minha mãe: depois disso o mundo meio que perdeu a graça, mãe. E ela me ouviu: eu não espero muito mais da vida.
Porém, é o mundo, e nele há quem espere belezas mil, certezas inúmeras e, por tudo isso, muita decepção.
Estás decepcionado, meu amor.
Não posso lhe fazer nada, nem dizer.
(Meu corpo recém banhado a shampoo, sabonete e perfume, sabe que o lugar dele ainda não é fora de ti).
Mas fazer o quê? A vida não precisa que eu concorde para seguir a existir.
A vida existe e eu sigo no seu rastro, tentando aceitar o descompasso e tentando - hoje, mais que sempre - dormir.
Preciso dormir.
(Mas minha boca dói muito ainda).
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quarta-feira, 14 de janeiro de 2015
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