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terça-feira, 27 de janeiro de 2015

I Giorni

Primeiro você pensa:
se chorar é doer
eu não quero
chorar.

Depois você chora
por ter decidido se privar
daquilo que hoje e amanhã
é tudo o que restou a você.

E então desce uma lágrima quente
e se aloja na quina
dos olhos ressequidos
(por tanta desesperança em si
no outro
e no abismo que é o mundo
quando sofremos o fim
de um abrigo).

Perdestes o abraço
a comunhão das mãos
Ficaste só ouvindo as iras
de repetidas canções
que só mesmo agora
te fizeram sentido.

Colocastes em dúvida
a possibilidade do remendo
denunciastes a fita crepe
e o crepe do beijo
e do fiel alento.

Quando as lágrimas de antes
não te levaram a sentido algum
Você as enxugou
como se elas lhe devessem
alguma resposta.

Não. Tomaste a decisão errada
na hora mais torta
e por isso, agora,
escreves poesia para
dar conta dos dias
e de suas horas.

Eu choro agora
lágrima a lágrima
verbo a verso
Eu choro
porque não poderia haver nada mais longo e grave
do que desistir desta jogatina.

Meu coração dói
mas o lado esquerdo do meu peito
Prova inda haver vida.

As metáforas apertam a campainha de minha casa.

É só que elas querem me provar que vida sem elas
não chega a ser cousa alguma
não chega a ser nem sequer algum nada.

Pois eu as convido a entrar.

Entrem, metáforas.

Elas se sentam no chão
(eu não sabia: metáfora não gosta de sofá).

E uma delas me olha
e pergunta:
onde está a intersecção?

Eu não entendo, eu confesso
(elas sabem)
Mas insistem:

onde está a intersecção? dessa lágrima sua
e dessa sua condição?

Eu queria dançar e morrer doendo a eternidade de um pas-de-deux.

E elas me miram, cientes e calmas
elas sabem que o meu desprazer não é por estar vivo
mas sim
por ver

e ter

que reconhecer
o fato sozinho
de que está só
não só o meu peito
mas também minha casa.

E outra lágrima me escorre
e elas me perguntam, sem freio:

Você está sozinho?
Ou nós que lhe somos invisíveis?

Eu ainda estou muito triste
muito
tanto
muito e tanto triste
e choro
por ver meu amor
se transformar em dor
repentina

dor que brilha
em meio a noite sem luz
dessa casa vazia.

Haveria algo pior?

Elas não me respondem.

Elas querem muito
que eu não me abandone.

Onde está?

Eu penso em outro que não eu.

Onde está a intersecção?
Da lágrima e da vida sua?

Eu não sei.

Eu respondo em voz modulada:
eu não sei o que está acontecendo
mas a dor que sinto é completa
e não me oferece pouso com escala

Vai fundo e destemida
inteira e reluzente
A dor que sinto
me aniquila

E me interrompem, as metáforas em minha casa recebidas:

a intersecção da sua dor
com a sua vida
É que nascestes para amar
e essa é
ainda agora
e será
para todo o pós do sempre
A sua missão nesta ida:


Amar,

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