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sábado, 10 de maio de 2014

O seu descontentamento

Por favor, não se leve tão a sério. A sua opinião nem sempre será válida. Por favor, não leia estas palavras como se as soubesse, como se as tivesse decoradas. Não. Espante-se, um pouco, por favor, com a sua certeza morta sobre todas as coisas. Eu não quero te surpreender, mas e se acontecesse, você se surpreenderia?

Não posso com essa morte que te domina o gesto. Não posso com esse desejo de fim que te permeia o corpo. Desaprendeste a dar conselhos. Sequer um dia, quem sabe, você o soube. Então, não sabes como me fazer continuar. Não sabe como dar trilha para o jogo não ser finalizado. Você consome tudo, enclausurado nesse papel de vilão que elegeu para si próprio.

O seu descontentamento, meu amigo, minha amiga, o seu descontentamento é consigo mesmo, é com você, não tem a ver com minhas rimas nem com a minha falta de sentido. O seu descontentamento é que tenhas se tornado isso. Isso aí que você se tornou. Esse lugar impossível de ser refeito. Essa listagem incongruente e constante de respostas às perguntas que ainda nem sequer vieram.

Que tristeza é ver que o seu olhar não me vê. Que tristeza que você busque companhia para assegurar que está vivo e ainda não todo sozinho.

Se eu pudesse te dizer uma coisa - e eu vou dizer. Se eu pudesse lhe dar um conselho - eu darei. Eu diria: pai, fique quieto por um dia. Trabalhe apenas os olhos, as mãos, eu não quero saber o que você acha sobre nada. Deixe o seu achismo te encontrar e te render. Talvez nesse jogo - de um só dia - você escute como é chata a vida oprimida sob corretor automático.

O seu erro você assumiu como verdade. Mas e o meu? Me deixa ser ruim? Me deixa não caber, não fazer parte? Me deixa a barba falha? O peito soluçando? Deixa, pai, eu ser quem eu não fui. Eu não ser sonho, mas sim máquina que deseja e por tanto desejar, acontece, vive em salto, irrompe-se. Deixa?

Você não pode responder. Por hoje, só eu quem fala.

E digo, com todo o meu pesar, que nem sempre, mas hoje, hoje, pai, quem cala - o senhor - consente.

Obrigado por me deixar.

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