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sábado, 28 de setembro de 2013

Arranho

Não foi como um sopro
apesar de breve
não foi leve
foi bruto
sujo
susto rouco
Eu perdi o meu gato
ele morreu hoje à tarde
Eu não sei o que fazer
dentro de casa
entre os seus pelos
voadores,

Tenho
tive
Tenho
tantas sensações imprecisas
Tanta coisa
me dizendo
aquilo que é
que não é
nem poderia ser,

Meu peito dói
minha capacidade de amar aumenta
mas e o cuidado?
Culpo-me em silêncio
para não exceder o tamanho da possível culpa
que talvez eu tenha
eu não temo ser culpado
É só que foi tão bruto
tudo foi tão rápido,

Meu filho
meu gatinho
imenso
peludo
animado
Foi embora sem me deixar lágrima capaz de contê-lo

Infeccionou-se brevemente
e ficou um dia mudo
parado
deitado sobre o tapete do banheiro

Cheguei em casa e falei
perguntei
fiz carinho
E nada

Liguei então para a veterinária.

Embrulhei meu filho
numa toalha toda colorida
Embrulhei e fui com ele no colo
atravessando as ruas
de cada avenida

Cheguei lá
e ele foi tratado
Estava com infecção costumeira
mas que em meu filho
Nunca antes havia morado

Deixei-o no soro
dormindo fora de casa
com o cuidado
(talvez duvidoso)
dos outros

Como saber?

Dormiu lá
Daí que acordei e liguei
para saber
Estava bem

Esteve bem
melhorando, segundo a segundo

Fui trabalhar e no instante de um segundo
me toca o telefone
para me informarem o improvável

Meu filho havia falecido

Fiquei mudo

o cigarro que fumava se apagou

Algo estranho em mim se plantou

até agora

Estou tentando

mas não vou conseguir

Quero dormir

e acordar entre pelos
num sonho impossível
onde eu seja um bicho
entre os seres gatos
imensos
poderosos
e cheios
cheios
de alguma indiferença
a lá raça humana.

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