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terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Carta aos filhos deste primeiro de janeiro ---

O ano de 2013 mal começou e vocês já me vieram, filhos meus.
Não se sintam rejeitados por ler este quase lamento, é só que está muito quente nesta cidade do Rio de Janeiro e é difícil aguentar o calor da infância junto ao calor do tempo.
De qualquer forma, sempre que vocês ou vossos irmãos me chegam, a sensação é tão boa, meus filhos, que tenho medo de viciar no movimento e trazer ao mundo mais filhos do que eu poderia alimentar. Sorte é - aqui entre nós - que vocês ultimamente já têm me chegado com maior autonomia do que os filhos de outrora. Noutro dia, nasceu um irmão de vocês trazendo consigo já um cartão de memória. Antes dele, outro me chegou falando inglês e outro ainda me tirou a paciência: queria ser famoso já desde o nascimento!
Vejam: o papai não é contra nenhuma das vossas invencionices, é só que às vezes eu lamento a dificuldade que é domar seus instintos. Lamento a dificuldade que é saber quais limites oferecer para que os seus voos possam, de fato, sair do papel. É difícil dar conta de tanta tentativa ao mesmo tempo. Mesmo assim, o papai segue buscando não temer vossa ousadia, e mais ainda, tento eu não ter pena de mim mesmo, para não aceitar tão facilmente que trazer-vos ao mundo tenha sido mais crime que afeto. 
Perdão, meus filhos, essa não é uma carta lamento. Sei que o soluço que vocês me causam alarga ainda mais o meu corpo e espírito. Vocês me convidam para brincar, o tempo inteiro, e nisso eu me perco e me acho e quando me vejo: já não sou o mesmo. Vocês me fazem, crianças, ser sempre de outra maneira. Mas não pensem que faltem limites. Aqui nesta casa, vocês hão de perceber, nós fazemos as regras juntos, mas vez ou outra o papai vai ter que gritar: pois alguns de vossos irmãos querem sempre voar antes da hora. (E não se pode voar sem antes aprender a escovar os dentes! Educação! Um dia vou-lhes falar sobre isso). 
Por fim, eu vos escrevo - escrevendo em vós mesmos - para informar que fiz uma longa faxina em nossa casa. Tirei a quantidade, as cores gritantes e joguei tudo no branco, tal qual água no gelo. Ousei sinalizar numa só cor -  - as portas e janelas pelas quais vocês e seus tios (meus visitantes), poderão sair para arejar a mente e o corpo. Está tudo meio sem graça. Mas eu gosto. Sou velho, vocês sabem disso, e nunca fui moderno, a bem da verdade.
Sejam bem-vindos. Que neste ano novo, o vigor não fique velho tão rapidamente. É preciso persistência para amar nestes tempos, meus pequenos. Quem sabe os astros não poderão nos ajudar nestes dias que estão por vir?
Do seu,
Diogo Liberano

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