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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Cine

Coça a cabeça com a ponta dos dedos. A boca se abre e o sono escapole. Ele diz que sim com a cabeça. A garçonete se retira e ele avança junto a ela ao balcão. Depois há uma mureta na minha frente e eu não sei mais dizer para onde foi o homem que há alguns minutos me chamou a atenção.

Sorvete numa mão. Na outra um cartão. Ela se agacha e se ergue, ela gira e põe a mão. Eu me pergunto daqui onde estou para quem será o tal cartão. O sorvete. Derrete? Talvez sim. Ao seu lado o marido (marido?) saboreia a sua porção. Ela some. E eu nem vi. Olhei para esta tela e ela sumiu. Não sei se com ou sem cartão.

Nós dois estamos dividindo a mesma extensão. Ela não é minha. Ela não é dele. É da cafeteria. Nós dois dividimos a mesma extensão. E entre nós, porém, nada se cruza, nem energia, nem eletricidade, nem sequer atenção. Eu não acho que ele me olha. Eu não acho que quero sabê-lo. Algumas pessoas desde os inícios lhe causam apenas indiferença, apenas são pessoas e não há problema nisso, não é maldade. É só que meu corpo não se seduz a essa diversão.

Pulo a linha. Chega o garçom. Mas aqui, dentro, esta música (Joan as Police Woman) canta aquele mesmo refrão. Faz quanto tempo que eu ouço essa mesma cantora? Quanto tempo o mesmo cd? Eu nem sei. A conheci em 2007 e desde então estamos aqui. As coisas seguem e o meu café duplo há tempos partiu e nem sujeira deixou. O garçom transita. Deve ser difícil ser um garçom. Mais uma vez. Eu aqui pensando. O que posso fazer comigo mesmo que não acentue minha perdição?

Como não sublinhar o desespero?

As pessoas aqui em movimento e eu aqui com olhos movediços e dedos escrevendo pseudo-confissões. Que loucura a vida, não? De fato, quem disse ter que fazer sentido? A vida é mais divertida sendo livre, sendo livro, romance e ficção. Que tristeza essa a de não poder acordar feito obra. Que grandeza essa de ser matéria em meio ao tempo lançada.

Eu quero ir ao banheiro.

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