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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

April 2007

Pés
vidro
espelho
sorriso sem dentes
Reflexo passageiro
a tempo de gosto deixar
impreciso
preso nos segundos
já idos
Toca
o piano
eu diria
o piano
me toca
e me alimenta
preciso
indo
sem pensar
eu digito
na pele
a canção que não pode só
passar
e que precisa de ponte
obrigado
eu ouço
eu danço
eu parto
e você aqui
vê como estou perdido?
queres vir até mim?
pode vir,
eu estou todo solto
todo capaz de doer
não temo
não reluto
eu vou com você
você que foi antes do seu tempo
que me deixou só
para quem meus segundos contam mais
por quem minha existência se dói inteira
sem dor
sem pane
só amor
isso que faz
com que tenhas partido
e tenha ficado
- inteira
- intacta
incapaz de ser removida
mais forte que tatuagem
mais forte que o silêncio
você que foi e que ficou
virou de inédito o eterno
és doce e me dói não ter
você aqui para me abraçar num só tempo
você aqui para dividir comigo os meus tormentos
você aqui para me tirar para dançar
você aqui para me compreender
desculpe
não era para isso que eu havia começado a escrever
mas é que você me invade
a sua falta me perfura e faz doer
como posso então não seguir doendo
como posso bater a porta rumo a ti
e fingir aceitar
fingir não me rasgar
fingir não me ser?
eu sou o que seu não ficou
eu sou o que você deixou para trás
e não tento mais compreender
eu não tento
eu sofro apenas
como fosse isso algum ir
como fosse isso qualquer coisa
capaz de amenizar
a dureza de um encontro que eu sei jamais poderá de novo acontecer.

que brusco isso que fizeste
te tiraste de mim sem perguntar
arrancaste de mim o meu direito de ti
e foste embora
sem pestanejar
foste segura
achando que essa dor fosse capaz de se sustentar
poxa,
por vezes fico puto
quero te matar
mas já o fizeste, não?
foi assim que amenizou seu desespero.

eu queria ao menos que o tivesse dividido comigo.
eu dava um jeito sem dúvida de resolver o que fosse
para te ter ainda aqui comigo.

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