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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

indagação que não se indaga

sabe quando você afirma algo com tanta convicção, mas não por crer nisso desesperadamente, e sim porque a intenção é conseguir crer naquilo que você mesmo diz. pois então, isso é um caso.
sabe quando você afirma algo com plena convicção, mas em seguida nada em você se move querendo combater sua certeza, nada se abala querendo indagar seu peito. sabe isso?
pois então, eis o meu caso.

não consigo duvidar. não consigo conseguir motivo para achar que tem algo errado. a plenitude me arrasa. tenho medo de plantar eu mesmo sob o solo alguma bomba só pelo reconhecimento de que sim, sim!, sempre alguma coisa está descontrolada.

mas não. eu resisto. sei das dificuldades. sei que tenho eu mesmo sementes mil para encher o piso e afastar-me do caminho que não duvido neste segundo. mas eu vou mesmo assim. porque sabe as coisas estão todas indo, eu nelas me vejo estático, processando a ficção que virou meu mundo. meu mundo sem mim, apenas em mim ficionalizado, tornado conto para amante em noite solitária, tornado poema neste antro de poesia - perdoem-me, meus filhos - feita para suprir a pressão do bate-estaca.

é isso. estou disposto ao erro. ao grito, ao pavor. mas alguma coisa tem que se agitar no meu íntimo que não sejam mais as tais sinapses. elas me consomem, elas mesmo que dentro de mim me rendem e me invadem num movimento que não me permite achar nada mais divertido do que ser escravo de si próprio, da sua própria incapacidade de se ser.

vês como estou a embolar as palavras? quero embolá-las ainda mais. até mofar.

eis hoje meu corpo que não é dicionário.

eis hoje eu minha vida, ansiosa por morrer,
devorada pelo crocodilo
pelo tubarão
pelo assombro sinistro
deste verão.

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