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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Regina levou um cano

(Regina está sentada no sofá de sua casa, próxima ao telefone, que está sobre uma mesinha. Um longo silêncio, interrompido por um grito, bem alto e libertador).

- Também eu falo mesmo! Poxa, que coisa. Ah... Falou que ia ligar e não liga, aí fica a palhaça do lado de cá esperando o telefonema. Cara, que vida viu, eu vou te contar uma coisa. Ah... (retoma o silêncio, de olho no telefone, mas irrompe novamente) Ai, gente, coitada de mim. Mesmo! Coitada de mim, eu sofro demais, demais! As pessoas não têm consideração com você, não tem, Regina, acredita em você, mulher! Você sabe bem o que fazer. Aliás, você sempre sabe, é mulher da vida. Aprende batalhando. E você batalha, hein, sua doida?! Aí depois fica igual uma incendiária no cio e em vez de procurar um daqueles bombeiros maravilhosos, pega qualquer encanador que te aperta um pouquinho. Ah, mulher, deixa de ser besta, poxa! E agora ainda fica esperando o telefonema do fulano! Ah... Eu vou falar uma coisa... Eu levei foi um cano, viu! Eu levei um baita cano! Ah... Agora você tem que se sentir forte, porque você é muito forte... Ah... Eu sou uma baita forte... Ah... (olha para o telefone e reflete um instante, em seguida, avança sobre ele como se atendesse a um telefonema) Alô?! Ah... Oi, é você?! Tudo ótimo, obrigada por perguntar... E contigo, dormiu bem? Ah, sei... Também tô, Rô... Sim. Sim. Sim. Também quero, Rô... Ahã. Ahã. Sei. Sei. Eu sei, ahã... Sim, claro que sim. Também. Também, mas vem logo, Rogério, que eu não espero muito não... (desligando bruscamente o telefone) Isso, muito bem sua perdida! Fica se iludindo com esse encanador filho de uma porca, fica! Você fica se martirizando, sua perdida, fica?! Ainda sobra tempo pra isso, poxa! Tudo bem que foi lindo. E foi, gente. Ah... Foi lindo mesmo. Eu tava lá no forró da Marlene, um forrozinho bem sacana, mas eu gosto mesmo, que é que eu vou fazer. (se alterando) Quem é que paga as minhas contas? Quem é? Ah... (controlando-se) Então, eu tava lá... Toda suada, parecia uma porca só que eu tava limpa... Tava até com um suor cheiroso, tinha usado a colônia que eu ganhei no dia do meu dia lá... Aí, então... Ah, sua danada! Você é perdida mesmo! Tava de combinante: calcinha amarela e sutiã azul, as cores do ano novo. Então... Você é uma danada. (espia o telefone) Aí você tava dançando, suada, com as alças do sutiã saltando pra fora, junto com tudo que tava dentro, dançando sem dar trégua pra tristeza... Aí, suada. Gente, eu emagreci uns quilos de tanto suor que eu suei. Deu vontade de gritar, “Eu sou uma porca feliz! Tô suando mas sou feliz”... Aí, não é que ele me apareceu?! Jesus Amado, que o Senhor me perdoe, mas eu não agüento homem assim. Todo suado, de macacão, um esperto... é isso que ele era, um esperto. Saiu do trabalho e foi direto pro Forró da Marlene, sabendo que ia pegar o fluxo... E não é que te pegou, sua dadeira?! Você é ótima, deixa só sua mãe saber disso! É uma porca! Sou nada! Sou nada! Eu tava muito mal, poxa! Ser abandonada hoje em dia é complicado, ah... (entediada) Vai arranjar um serviço, mulher! Anda! (pega uma revista de fofocas e começa a ler, durante um instante, acha uma distração, que é cortada pelo seu levantar súbito do sofá) Você é danada, hein, sua doida?! Ele vai ver esse filho de uma porca. Nem que eu quebre o encanamento todinho dessa casa, nem que eu deixe o gás vazar, ele tem que vim aqui me socorrer. (longo silêncio, como se processasse o que acabou de dizer) E ele vai me tirar daqui de dentro toda suada, meio sonolenta... E vai me tirar no colo, e eu suando igual uma porca... Ele adora uma porquinha... E os vizinhos vão tudo aplaudir ele saindo comigo no colo... Eu vou mudar de roupa, só pra ficar mais bonita... Vou abrir o gás da cozinha. Não, sua burra, abre o do banheiro... A janela do banheiro dá no vão da casa da Darcila, ela vai sentir o cheiro e gritar igual uma doida que é. Além do mais, no banheiro é mais apertado e na hora de me socorrer a gente vai ficar num aperto só... (sai correndo em direção ao banheiro e volta sentindo o cheiro do gás) Êta, cheiro maldito... Eu vou trancar a porta e deixar a chave no lugar que ele sabe achar. Imagina se entra a Darcila pra me puxar lá de dentro... Maldito, danado! Vem buscar sua porca, vem. Falou que ia almoçar em casa hoje... E que quando chegasse em casa ia me ligar... Podia até ter passado aqui mas aposto que ficou com medo de não conseguir sair mais dos meus abraços e voltar pro trabalho... Ah, seu danado! Quando o gás vaza aqui na vizinhança, todo mundo chama quem? O meu encanador. Aí ele vai me tirar de dentro do banheiro, tô pensando até em ligar o chuveiro, pra parecer que o fogo desligou e eu não vi... Aí vai me tirar no colo... Aí vai ser o nosso casamento. Eu toda suada e ele de macacão... Igual no dia em que a gente se conheceu. (Ela corre em direção ao banheiro, uma longa pausa. De longe, se escuta o grito da vizinha Darcila, Olha o gás vazando, Regina! Imediatamente o telefone toca, toca, toca e toca, mas ninguém atende).

Um comentário:

Anônimo disse...

que chacota, hein cocota!

hehehehehe

gostei sim!!! =P

Homônimo

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