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quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Sepulcro


Eu sinto tanto a sua falta, eu sinto muito, eu não consigo esquecer e eu não querer te esquecer. Não quero. Isso tudo é tão irreal para mim, principalmente. Eu espero que você possa me escutar. Você me vê? Ainda me vê ou só me escuta? Por quanto tempo vai poder me escutar? Eu espero mesmo que você possa me escutar, pelo menos. Não há mais noites depois do dia em que você... Você dormiu. Você dormiu e nada agora vai ser o mesmo, sem você por perto. E você estava tão perto, precisava tanto de mim. E agora fico eu, aqui, precisando de você. Nada mais como era, nada como o mesmo... Eu não tive tempo de ir até você, me desculpa. Por favor, me desculpa, porque eu não consigo me desculpar. Eu estava muito mal com tudo o que a minha vida havia se tornado, principalmente com tudo o que eu fiz a ela e a você. Por isso eu não tive o tempo preciso para te segurar no meu abraço e pedir que ficasse mais um pouco. Eu não tive disposição. Mais uma vez, eu fui tola e me permiti descansar e não reparar as pontas que havia deixado soltas por aí. Eu não estava lá com você e eu nem sei porque. Às vezes, eu não sei o motivo do espaço que ocupo, do tempo que levo para escovar meus dentes mal escovados, escrever umas linhas tortas ou te admirar. Às vezes, algo que é maior e que eu não posso abraçar, ou algo muito menor que eu não consigo achar, às vezes esse algo me toma por inteiro. E me guia. E por isso eu não pude lhe dar um beijo e fiquei apenas no acenar da mão. Eu gostaria de ver você de novo, mas eu sei... Eu sei que eu não posso. E mesmo assim, eu lhe falo todas essas coisas. Porque neste momento, me forço a concluir algo em minha vida. Eu me lembro com tanta clareza. Não faz dois dias. Foi na manhã seguinte a nossa última noite, quando a gente se desentendeu. E você me disse tantas coisas que eu tive que ir embora. Você disse que se sentia negligenciado por mim. Que se sentia largado, pouco aparado. Você mesmo afirmou que com o amor não se corre, mas que é preciso caminhar junto. Eu entendi. Eu fui para casa, não estava brava com você, mas com vergonha de mim mesma. Não queria estar com você por isso, e mesmo assim só pensava em tudo o que você disse. Foi então que percebi, talvez pela primeira vez, como eu te amava e como eu lhe dava tão pouco e você, sempre gentil, dava-me muito mais. Você se preocupou em dizer como se sentia mal, para não ter que me dizer como eu deveria agir para cuidar de você. Ou como eu deveria agir, para não ser mais descuidada com toda a minha vida. Eu já tive a chance de entender tudo, de acordar, mas... De que importa querer sair do lugar agora, quando é a primeira vez que para mim faz sentido ficar parada, eterna? Como fazer isso se você está aí? Eu continuo me perguntando por quê, por quê? Porque eu não posso suportar isso, porque não é justo que isso aconteça e que você vá embora. Não é justo que eu vá viver sendo tão culpada como sou. E agora você não está mais aqui para me proteger, para dizer que a culpa não é minha, para dizer que eu preciso correr atrás das coisas que quero, pois você está aí, justamente porque eu não estava com você. Eu não estava! Eu não estava! E eu nem sei porquê, se você me ligou na manhã seguinte, bem cedo, pedindo que eu fosse lhe ver. Eu não sei porque eu fiquei horas escolhendo as rosas para a nossa reconciliação, quando mais bonitas que elas só existia você. Porque logo após a sua ligação, eu perdi tanto tempo nas linhas de meus poemas infantis, quando o tempo se esvaia pelas linhas do seu corpo, da sua face, deixando-o cada vez mais bruto e frio. E agora, você está num lugar que minhas belas palavras não ousam chegar. Meus poemas são alegres demais, porque soube cultivá-los, excessivamente. Por isso eles estão vivos e você está morto. Eu me sinto tão culpada. Por viver como se eu pudesse fazer tudo outra vez, melhor, e sempre depois. Por achar que eu serei a única que vai poder voltar e consertar todos os meus erros. Por achar que posso me enganar que estar brigado contigo é algo possível de se sustentar. E nesse meio tempo, de dúvidas tolas e descansos intermináveis, eu perdi você. Porque você se foi e nunca mais vai voltar. Porque eu não te mereço. Porque eu sempre estive mais devagar, atrás de você. E só agora que você parou, é que eu pude estar realmente ao seu lado. Só agora que você parou é que eu vejo a sua beleza por completo. E eu sinto a sua falta. E continuo a ser a famosa pedra do seu caminho. Portanto, me permita ficar parada aqui, exatamente aonde ele termina.

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