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sábado, 19 de setembro de 2009

obesidade mórbida

o açúcar está matando geral. as formigas todas estão diabéticas. outro dia sobre a mesa do café elas tentavam levar o meu pão - salgado - inteiro para dentro do seu ralo, recheado de irmãs mortas e obesas. de delicadas e deliciosas mortes à milanesa.

a humanidade está banhada em rótulos. todos se afogam, todos se afogam. os surfistas, os protestantistas, as loiras nem sei dizer, bem como os anarquistas, os feministas, os nazistas, judeus, maquinistas, simplistas. meu deus, e os positivistas? e os cegos, as minorias (pretos, pobres, melancólicos, depressivos, suicídas, E AS PAQUITAS?).

realmente a realidade nos supera e reinvindica a si a sua parcela do real. a aparência despenca e ser gordo hoje em dia é ser pleno, desafio pungente, extrema sinceridade. para onde foram as pessoas? hoje e ainda mais hoje elas são alarde. os homossexuais são os mais homofóbicos. os negros os mais racistas. e os gordos? acumulam no corpo uma densidade que os pisoteia, que os eterniza. os gordos caminham seguros porque vivem soterrados sob a aparência sua de cada dia. dela não conseguem escapar.

nela, os gordos correm, gritam, esperneam, mas ela sobrevive, ela é capaz de matar. ela neles persiste. ela, talvez nem percebam, mas ela é eles. sua obesidade é mórbida, como a vida.

Histórico
Não sei como nem quando nem o motivo. Mas um dia abri a boca e pensei em doçura. A vida veio e me puniu, me alertando que não, que não caísse nessa ladainha, que não crescesse me banhando em romantismos, qualquer deles (todos terminam mesmo com ismo).

Um dia a vida me veio e disse: serás diabético, assim é preciso. Eu passei alguns bons anos negando a minha condição. Como alguém que nasce escuro e quer se branco, quer ser livre, mas nasce atado ao rim esquerdo de um irmão.

Um dia a vida me veio e hoje eu sei, aceitação. Colhi o caminho tortuoso e por vezes me indignei. Neste ano eu tinha me decidido (ANO QUE VEM NÃO VOU SER MAIS DIABÉTICO)... Mas vejo agora. Nunca quis tanto ser quem eu sou. Nunca foi tão preciso ser isso que sou nessa longa hora, que não passa, que nos arrasa e vai levando multidões. Aprenda a não cair nas doçuras. Se permitindo pular as poças de recheio e cair numa grama qualquer, amarga, esverdeada, de uma cor que amolece e empalidece qualquer afeto.

Acostume-se ao tédio. Revolte-se com ele, com você mesmo, com alguém que tenha em casa um elefante. Mas olhe num desses dias em que se amanhece com a boca amarga, olhe para o mesmo e perceba, como as coisas funcionam das diversas maneiras.

A obesidade é mórbida pois nasceu do instinto, do desejo. Ela nasceu de uma desmedida que nos pune pelo comedimento lá dos começos. Quando nos fizemos acreditar que o ruído era deslize e não partilha. Quando nos convencemos que o belo era alguma coisa criada e não já existente, em cada ruga, em cada folha, sob variadas formas, que o belo era uma invenção tipo biscoito, de tamanhos cores sabores variados.

É mórbida a obesidade porque nasceu do colapso. Esse mesmo que hoje liquida todo aquele ser que tenta manter o prumo diante de uma poça que o seduz. Diante de um banheiro sujo que desperta nele o desejo pelo cancro pelo sexo sujo pelo pus. Do colapso do qual nasceu o silêncio. Do colapso que apontou o vazio. Do colapso que gerou um amasso indecente entre corpos na lotação.

A obesidade é hoje mórbida, porque inchou primeiro o peito, e depois o corpo todo, tamanhas invencionices para driblar o sentido da pele, o sentido dos pêlos. O corpo todo hoje falece, porque um dia, foi negado, em primeiro.

Obesidade mórbida, por isso, vital.


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