Pesquisa

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O Ponto!

Estou aqui. Diga. O que você quer me dizer?
Bom, primeiro, fico feliz que tenha aceitado o meu convite.
Certo. Só, por favor, não vá me dizer coisas sobre amor, sobre paixão... Entende?
Não. Quer dizer, não era bem isso que eu queria te dizer.
Ótimo. Então diga, porque se não é isso, deve ser algo bem diferente.
Não. Quer dizer, não necessariamente.
Você está enigmático demais. Isso me faz pensar coisas que eu não devo. Anda!
Certo. Bom. É que eu não acho mais.
O quê?
Eu não acho mais que pode existir algo entre eu e você.
Eu disse que não era para falar sobre amor essas coisas e tal.
Mas não é. Eu não te amo mais. Acabou o carnaval.

Uma serpentina desce rolando todo o interior da menina. Enjôo.

Não é amor?
Não é amor.
Eu pedi que não falasse sobre.
Eu não falei. Até porque, se para mim acabou, isso está mais para desamor, para desafeto...
Mas então acabou?
Acabou. Não é novo? É outra coisa que não o mesmo... Você não acha?
Eu não acredito.
Não acredita?
Não. Não consigo.
Faz um esforço. Tenta olhar lá na frente. Tente se imaginar sem mim.
Sem você?
É. Sei que é difícil, mas é mesmo como vai ser. E depois, ainda mais lá na frente...
Você vai sair daqui?
Eu vou. E mais lá na frente, nós dois sequer lembraremos que um dos dois esteve aqui, junto...
Você vai sair de mim.
Eu vou sair, vou sim...

No estômago o ácido clorídrico (HCl) rompe a constante serpentina. Ela agora é um embolo, um bolo alimentar, um corpo em serpetina. Oscila.

Eu não consigo escutar sua voz e depois sentir o ponto. Para mim você fala suas metáforas...
Não são metáforas...
E no final das contas, sou sempre eu quem sobra em abandono. Eu quero ouvir o ponto.
Ponto?...
Ponto. Final. Que seja de exclamação. Quero ser estanque. Fim que acaba mesmo. Com revolta. Com ódio dos sexos. Alimentado pela vontade de matar o outro a qualquer instante. Vai! Cria em mim essa necessidade de você. Mas pelo inverso. Pelo inverso, cria em mim um placar, um protesto contra o seu corpo. Me faz acreditar que se eu ficar ao seu lado é aí que eu morro. Vai!
Eu não sei...
O ponto.
Que bobeira...
Vai! O Ponto!
Que ponto?...
O ponto final!
Eu não tenho, não sou eu quem vai te dar isso... O ponto vem com o tempo.
Com o tempo vêm os segundos.
E com os segundos vem o fim.
O fim?
Sim.
Concreto assim?
Concreto, sim.
Eu posso ouvir...
O quê?
O ponto em cada uma de suas colocações...
Ouve?
Ouço, sim...
É até onde chegamos, juntos, sim.
Juntos?...
Agora não.
Agora não?...
Não. Agora, não mais.
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário