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segunda-feira, 23 de março de 2009

Não há nada estranho.

- Não tem conflito?
- Não tem nada.
- Tem que haver alguma coisa.
- Não há.
- E eu faço o que, fico olhando pra você?
- Não precisa.
- Você está mais econômico do que ontem, em suas palavras, eu quero dizer.
- Faz sentido. Eu perdi tudo.
- Ou quase tudo?
- Tudo.
- Sei.
- Sabe o quê?
- Você tem curiosidade em saber?
- Tenho.
- Então não perdeu realmente tudo?
- É. Tudo não.
- Isso é um começo, que bom.
- Não.
- Não é um começo?
- Não. Não é bom.
- Também não é bom? Ou é um começo, mas não uma boa sensação?
- Não. Não.
- Não tem conflito?
- Tem conflito.
- Qual?
- Você não vê?
- Não há conflito.
- Ele está de frente pra você.
- Eu estou olhando para o nada.
- Justamente. Eu disse.
- Disse o quê?
- Não há nada.
- Então não há nada?
- Na verdade, não. Há nada.
- Há um nada?
- Há.
- Que nada.
- Há sim.
- Não há não.
- Era esse o conflito.
- Isso não é necessariamente um conflito.
- A não ser que seja pra mim e não seja pra você.
- É assim.
- Portanto temos um conflito.
- Mas porque?
- Por causa disso.
- Eu quero dizer, porque precisamos de um conflito?
- Eu não sei.
- Foi algum manual?
- Deve ter sido.
- Desses que faz a gente perder tudo em troca de alguma certeza?
- Deve ter sido mesmo.
- Não precisamos.
- Do conflito?
- Não precisamos dele.
- Por mim, tudo bem.
- Então estamos acertados?
- Acertados?
- Eu digo, estamos bem um com o outro?
- E não estávamos?
- Estávamos.
- Estamos.
- Então, tudo bem.
- Tudo bem, então.
- Estranho?
- Não há nada estranho.
- Há. Alguma coisa tá estranha...
- Não sou eu, é você.
- Sou eu?
- Só pode ser!
- Não, eu não!
- Então tem alguém aqui além de nós dois...
- Pode ser...
- É isso que é estranho...
- Faz sentido.
- Faz sentido...
- Tem alguém olhando a gente não tem?
- É o que eu desconfio.
.

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