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segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

a promessa do partir caso nada disso mais me importar

Foi quando eu percebi que eu também escrevia primeiro sobre mim, depois sobre o mundo. Eu sobre o mundo. Eu atráves dos meus olhos. Num exercício redundante de dizer pelos olhos o que os mesmos olhos são capazes de ver. Fiquei pensando que talvez fosse um ego, centrismo. Talvez uma prepotência. Não seria também cinismo? Pensei em adjetivos, busquei traçar sentidos que pudessem dizer sobre este meu exercício sobre mim, essa minha experimentação comigo mesmo. Mas não cheguei muito longe. Meus braços e pernas ainda não são capazes diante da imensidão de meus medos. Erros.

Segui pensando. Pensar hoje é tentar. Segui tentando em mim clarear os comentários. É tão ruim se expor? É ruim que a minha sinceridade seja primeiro em meu corpo, para depois ganhar contorno outro e talvez nisso mesmo ir se perder? Não saberia dizer. Mas é certo que os primeiros versos sejam quase sempre eu tentei algo dizer.

E é na busca desse algo que eu também ouvi e vim perceber. Que poesia é essa que sentencia o que é morte o que é dor o que é o amor e o que é o viver? Estaria cega confusa obstinada numa só busca num só sentido sem separar nada deixando assim tudo confuso e impreciso? Eu me questionei sobre o porquê das orações tão corretas. Dos pontos tão finais. E das linhas que em termos gerais buscam classificar o que há ao meu redor.

Necessidade de classificar. Eu preciso dizer que há morte e fazer você assimilar que sentidos ela mesma desperta em mim. Essa é a minha certeza. E como são diversas tentativas, certezas despencam sem parar, sem peso, sem talvez vitalidade, sem conseqüente germinar. O excesso é a vida. E a minha vida é tentativa. Sentencial.

Por último, eu devo sobre isso também pensar, afinal, do que sou feito? Porque as coisas que produzo, os filhos que semeio aqui no mundo, são eles produto também dessa minha matéria, dessas minhas veias e artérias (e daquilo tudo que lanço na corrente da nossa sanguinovia).

Estalo os dedos. A coluna. Faço o corpo reclamar. Quem é você e o que veio buscar? Faço o corpo em cicatrizes se criar. Marcando na face a promessa do partir caso nada disso mais me importar. Primeiro eu. Eu no mundo. Não posso dizer primeiro o que há fora pois só existe um fora porque aqui dentro sou eu. Um só. Um único.

Eu li isso um dia. Que uma poeta escreveu sempre sobre sua própria vida. E não é isso poesia? A própria vida?
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