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segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Morte à metáfora

Cansei de falar de filhos

Que não tenho.

Sou sozinho não tenho asas

Mas continuo morrendo.

Essa talvez seja a única firmeza

A única dureza na qual me debato

Porque há vida no desfazer

E refazer da mobília do quarto.

Cansei de falar de estrelas

Que nunca disse

De me expor em cores

Que extrapolam a minha

Falta de tons,

Meu sangue está velado em veias que não consigo cortar

Talvez pela falta de gilete

Talvez porque não tenha tempo para sequer me barbear.

O que eu quero dizer está sempre indo distante

E é distante porque não concretizo o instante

E durmo pensando em acordar

E beijo pensando no terminar

E vôo pensando em te encontrar.

São nessas azias

Que o meu dia arruína

Nessas melancolias

Que eu me perco

E me perder nem sempre me fascina,

Porque o encontro é preciso

Porque o encontro eu preciso

Nem que seja para o despedaçar

Nem que seja para alguma coisa que eu não possa aqui delimitar

Estou sobre cacos que não consigo juntar

Se paro eu vejo que não são cacos

Mas pedras pequenas que acompanham o meu caminhar

Que corre

E desce e sobe e vira e torce

Até eu precisar recomeçar

Com os pés ralados

Os olhos vencidos

E o sorriso amarelado.

Nada disso é metáfora

Tudo está assim consumado

O cabelo que temia sobre os olhos

Agora os olhos ultrapassam

As unhas pintadas pelo mundo

Pelos dentes são refeitas num segundo

E tudo está preso aqui dentro

Na confusão de um organismo ser.

Nada disso é o que não é

Tudo assim fica muito preciso

Como foi com seu beijo

Como foi com seu partir

Como foi quando eu chorei

E chorei sem ninguém poder me ouvir

Tudo assim dessa maneira

Hoje o domingo

Amanhã

Todos sabemos o que será

Já não posso continuar?

Sim, eu posso continuar.

Extrapolando os limites do possível

Refazendo as apostas num futuro imprevisível

Sim eu posso continuar

Basta acreditar

No instante deste segundo

Faze-lo durar o suficiente para ser duro

E não ar

E não vento

E não sempre tudo ser bem-estar.

O que se aprende com o amor

É que nem tudo se pode explicar.

Eu não me explico

Isso eu já sei

Eu não quero sentidos

Eu quero a confusão reinando em reis

Eu quero a lobotomia desta manhã

Eu quero a fome a fome a fome

Deixe assim estar

Deixe o tempo nublar

Saturar

Sucumbir

Eternizar

O movimento retrógrado dos homens que andam de costas

E que correm

E que borram

O chão

Espelhado

Dessa movimentação.

.

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