Pesquisa

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

14:00

a tarde me consome
o calor não é calor
a chuva não chove realmente
e tudo fica assim
pela metade
como se o dia já não fosse
nem mesmo uma coisa
nem mesmo outra

a tarde me consome
nos minutos em que deslancha
eu fico perdido
não encontro a vassoura
as letras se perdem
na bagunça do quarto
e eu não quero
não posso
fumar
um
se quero

os versos são de tamanhos variados
as coisas que digo me ultrapassam
para melhor
e para melhor ainda
nada é exceto
somente essa agonia
desse meio da tarde
desse meio que meio mas que sequer é metade
porque o dia acabou de começar
mas já vem carregado
como se portasse a semana
inteira
enjoada
chata
encabulada

poeira
analgésicos
ah, quanta dor
dor que não dói
dor estúpida
feito dor-despertador
que existe apenas para doer e lembrar ao corpo
que nele deve haver algum rancor
alguma ferida
rasgo
ou bala
não
mais
perdida

as estrofes relincham de horror
como podem nessa disposição
são medonhas
pavorosas
são estrofes ou pilhas de jornal
são algo nobre ou o sempre
mesmo
habitual

perguntas fáceis
sem calafrios
sem interrogação
este é um meio
este não é um

um um quê

tudo que me sobra
viver
será essa a minha obra
eu pergunto sem perguntar
eu exclamo sem declamar
eu afirmo sem declarar
a obra
o artista
o autor

a bulimia
...

Nenhum comentário:

Postar um comentário