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quarta-feira, 23 de julho de 2008

Substituição

Você pode pensar
Não tem mais manteiga
Eu uso o requeijão.
Entretanto
Muito se difere
entre a oleosidade de um
e a cremosidade do outro.

Não seja tão bobo
Não ache tudo tão absurdo
ou tudo tão glorioso.
Se acabou o pão
eu vou direto ao biscoito
No entanto
de um ao outro
morrem-se mil outros gostos.

A MANTEIGA RESSENTIDA

Você abre a geladeira. Poderíamos dizer que imóvel a manteiga acena para você. Está ela lá, sobre a prateleira, a te esperar. No entanto, você só tem olhos para o pote de vidro entiquetado. Olhos só para o requeijão cremoso e autoritário. Você o pega. O pote. E a manteiga mesmo refrigerada desmaia dentro de si mesma e choro e ólea e morre dentro de si ao ver a porta bater a sua frente após revelar o seu amor pelo requeijão, agora, de dentro da geladeira, ausente.


O QUEIJO EMPOTADO

Foi no que se transformou aquele vidro de requeijão que certo dia, outro que não aquele, você ignorou. Abriu a porta e foi direto à manteiga. Abraçou-a em seu peito e deixou ele ali estalando por inteiro. Sentindo mais frio do que se estivesse dentro de um refrigerador. Era isso. Era ali onde estava. Um lugar para manter a sua dor aquecida. Manter a frialdade da sua relação com o tal requeijão adormecida. Oh, ele quis morrer. Endureceu-se de raiva e virou queijo. Dentro do copo de requeijão era o mar cremoso agora relevo, sólido, bruto. Massa sem jeito.


Substituição


Você não está mais aqui?
É você quem determina?
Não queria que fosse. Mas, sim. Sou eu quem digo.
Então eu não estou?
Não mais.
Que fique claro que é por você.
É essa a minha função, infelizmente.
Não. Eu digo, que fique claro que é por sua causa que eu estou saindo.
Você já saiu.
Não. Ainda não. Nada assim tão rapidamente resolvido.
Então você está?
Pendurado. Sendo sugado, mas nada assim tão declarado.
Como o quê?
Como o meu amor que era amor mas que hoje é apenas ódio por você.

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