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sábado, 19 de julho de 2008

As crianças me olham

E eu não sei como me portar.

Parece que fiquei velho
ou talvez apenas cause medo
mesmo sem perceber.

Elas me olham
e eu não consigo esconder
toda a dor que há em se ver
em ver ir no si mesmo
a infância a se perder

ir correndo
feito pique
decaindo
feito corda
que se pula
e pula
até nela se enforcar.

Todas olham
e vêem minha barba
sentem um cheiro ocre
assustam-se com o tamanho
e sobretudo
o corte
do meu cabelo.

Fui eu que me perdi primeiro?

Ou elas que ainda não se encontraram?

Precisava mesmo era de mão que penteasse meus pêlos
de mãe que me obrigasse a ser direito
e que me deixasse
sim
um pouco sem ar.

Fiquei tão livre
tão rápido
tão cheio de asas
que parti sem pensar
que saltei sem olhar
para baixo
para trás
quiçá para dentro

Parti semi-consciente do meu fim.

E então, hoje as crianças olham todas para mim

Vejo seus olhos e ameaço um tremor
Vejo seus olhos e hoje eu tenho pavor
Da criança que soterrei sob meus gestos
Imprecisos gestos de quem se achou grande antes da hora.

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