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terça-feira, 15 de abril de 2008

A coisa mal feita

Por vezes
me chateia.

Fica meio cara suja
meio filho da rua
cuja vulva
da qual nasceu
sequer se anuncia

e apenas
pende
cansada
com algo nos lábios a dizer
mas incapaz
de se compreender.

A coisa toda mal feita
me tortura
Não fosse apenas mal
ainda fosse feita
conduta
precisa
coisa
estúpida.

Por vezes me chateia
Por vezes eu amanheço
e penso
"é preciso resolver"

É que a coisa assim
mal feita
pela metade
sem o último toque que nos dá o rótulo de nossa identidade
então
é dessa coisa aí
que parte a mediocridade.

E se alguém aplaude?
Pior: você olha para o seu filho e aceita
"poderia ser pior"

Mais feio
fedido
sem jeito
Filho impreciso
inimigo
do corpo
e do seio

da mãe
que se diz cansada de amamentar

da mãe
que se diz e que se diz e que se diz
é porque tem medo
que o mundo reconheça
ali
no filho gemido
o seu traço perdido
o seu ranço fudido
o seu precipício.

Ai
de coisas mal feitas ando eu cheio
Por isso
todo o cuidado com os filhos
todo o zelo
todo o selo

Não mais para qualquer um
Não mais assim

pela metade
na inevitabilidade
do partir a seguir.

Que morram de uma vez
os filhos caídos de mim

E que entre nós
uma nova raça
feita deles
possa ser erguer

e o mundo?
será outro
outro ser.

3 comentários:

Amigos disse...

da vulva, dos lábios...

Caio Riscado disse...

é que pensando tb na arte da qual somos adeptos o poema cai como uma luva. se foi escrito para tal já n sei.mas deixo aqui meu parecer.

adorei o fundo novo do blog.

moderno


=*

conexão/rio-madri disse...

ah!agora não tem como roubar seus textos!rsrs isso aí rapaz, manda bala! sabe que por influencia comecei a escrever um texto sobre suicidios!rsrs comento lá no outro blog! Parabéns pelos filhos! sucesso!

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